terça-feira, 26 de agosto de 2014

Toxicodependência, uma vida em farrapos

Toxicodependência: uma vida em farrapos

Não me considero qualificado para dissertar sobre toxicodependência. O depoimento recolhido é, apenas, uma reprodução de memória, onde se alteraram os elementos identificativos.
Uma das causas que os psicoterapeutas apontam para o jovem se iniciar no consumo de drogas psicotrópicas tem a ver com a falta de afectos, de referências, de sentido de responsabilidade e da inversão do papel pais/filho. O jovem procurará incessantemente parceiros onde a relação humana não esteja presente o que lhe dá a ilusão de independência e poder. É manipulador, amoral, egocêntrico. Mas, faltando-lhe uma ligação afectiva sustentada, um vínculo sólido, mesmo que tivesse deixado de consumir, retoma a droga, que lhe traz euforia e a ilusão de felicidade. Os afectos, sempre os afectos. E, é por isso, que abordamos este tema.
E, na toxicodependência a família desempenha um papel-chave. Já não falo das famílias disfuncionais (violência doméstica, ambiente degradado, alcoolismo, etc.), mas daquelas aparentemente normais, embora descurando o essencial – a atenção ao adolescente, o carinho sem contrapartidas, a criação de regras e responsabilidade, a preocupação pelo próprio comportamento,. Mesmo presentes, os pais são demasiadas vezes ausentes. Não se podem substituir afectos por jogos de computador ou consolas, etc. Às famílias dos toxicodependentes passam muitas vezes despercebidos os primeiros consumos e, quando dão por isso, é tarde (passaram anos, por vezes) e recusam-se a aceitar a sua própria responsabilidade. Raramente são as “más companhias”, ou a má índole do jovem, as razões do desastre.
A crise económica, com a degradação da qualidade de vida que acarreta, agravou o problema. A Escola é o local onde se supõe que se educam os jovens, mas é uma ideia errada: a educação é tarefa dos pais.
Sou muito descrente da eficácia de quaisquer políticas sobre a toxicodependência. Daí que também entenda o desânimo dos governos e não concorde com a generalização da ideia de hipocrisia. O que leva um jovem a iniciar-se nas drogas duras? Qual o seu perfil psicológico, quais as omissões familiares? Mas, não conhecia ele o percurso dos viciados? O início do consumo poderá resultar de uma imprevidência, uma simples “experiência”, durante a adolescência ou na transição da infância para a adolescência. Mas a dependência e, logo a compulsão pelo consumo da droga, é uma doença,
Apoio, todo o apoio, a quem queira libertar-se (por meio de intervenções integradas medicamentosas e psicoterapêuticas). Mesmo sem haver muitas soluções, tem de se investir, insistir, prosseguir. Com os meios disponíveis, há que alargar a rede de Instituições governamentais e privadas de Solidariedade Social, capazes, de forma séria, minorar as consequências devastadoras da toxicodependência,
O texto e as imagens que o ilustram são arrasadores. Romy não chegou a escrever qualquer livro, mas concretizou um sonho: teve uma filha. Que não pôde desfrutar porque morreu, tempo depois. De overdose. Que descanse em paz.
FM

Sem comentários:

Enviar um comentário